Lembro-me que na
minha infância, minha mãe costumava citar o seguinte ditado: “isso aí é mistura
de Zé Buxudo com Jesus Cristo”. Nunca fiquei sabendo de fato quem era esse tal
de Zé Buxudo, mas, logo cedo entendi a associação, já que o contexto da citação
era sempre se referindo à união de algo que era estranho demais ou realmente
incompatível e que não se devia misturar.
Talvez, você esteja pensando o
mesmo vendo o título deste artigo, mas deixe-me explicar melhor o que quero
dizer e como pretendo lhe ajudar com ele.
Ministrando uma aula de Bíblia,
fui questionado sobre o papel da circuncisão, do Sábado e dos sacrifícios no
Antigo Testamento. Refletindo sobre como explicar o papel destas ordenanças de
uma maneira fácil, foi aí que me veio à mente o contexto do filme Karatê
Kid.
Tanto no filme original quanto no atual “remake”, a associação é
válida, mas vou me ater ao filme original (aquele com o Daniel San e o senhor
Miague).
No filme, o garoto que apanha muito no colégio, depois de algum
tempo, consegue finalmente convencer o relutante mestre a ensiná-lo. A condição:
“Faça tudo o que eu mandar, mas sem perguntas”. O garoto aceita e então o que
vemos no filme é aparentemente o início de uma exploração total. O senhor Miague
coloca o pequeno e entusiasmado Daniel para realizar todos os tipos de trabalho
de reforma em sua casa e carros antigos.
Sempre que o pobre Daniel tenta
perguntar sobre o porquê de tal exploração ou sobre quando finalmente iniciarão
as aulas de Karatê, a resposta segue a mesma: “... sem perguntas”.
Os
que assistiram ao filme irão lembrar que, depois de ter consertado e pitado a
cerca da casa, limpado e encerado o assoalho (e não era pouca coisa não), ter
lavado e polido todos os carros antigos do mestre, e pintado toda a casa, o
menino chega ao seu limite do que ele acreditava ser pura exploração e a quebra
do compromisso assumido por parte do mestre.
É exatamente aí que a
história dá uma reviravolta e tanto o Daniel quanto nós levamos um tremendo
choque ao descobrir que todos aqueles “trabalhos forçados” eram na verdade o seu
treinamento de karatê. Nem o próprio Daniel acredita, mas desafiado pelo mestre
ele é definitivamente convencido: “Limpa assoalho! Pinta cerca! Encera!” somados
a um “pulso firme” encerram a cena, na minha opinião, uma das melhores do
filme.
Mas o que aconteceu a final? E o que tudo isso tem a ver com as
ordenanças ao povo de Israel no antigo testamento? É aí que vejo aqui uma
associação perfeita.
A realização da circuncisão, a guarda do sábado bem como
a oferta de sacrifícios cruentos, nunca foram um fim em si mesmos, mas sim um
meio de ‘treinar’ o povo para o que eles só descobririam depois, exatamente como
no caso do treinamento do Daniel.
O objetivo último de Deus quando
instituiu a circuncisão não era de que os homens possuíssem uma marca externa
que lhes conferisse algum tipo de ligação com Deus, mas sim que ela fosse a
marca externa de algo que já deveria ter ocorrido internamente. É a isso que o
apóstolo Paulo chama de circuncisão do coração em Romanos2:29 “mas é judeu
aquele que o é interiormente, e circuncisão é a do coração, no espírito, e não
na letra;...”.
Quanto à circuncisão, os judeus foram então ‘treinados’ a
circuncidarem todos os seus filhos, mesmo sem entender o real motivo de sua
instituição e até muitas vezes ‘marcando’ alguém que não possuía qualquer tipo
de relacionamento sincero com Deus. E isso, até que o tempo da
maturidade/revelação chegasse.
O mesmo princípio se aplica para a guarda
do Sábado. O objetivo último de Deus nunca foi de proibir os homens de realizar
qualquer coisa neste dia. A instituição da guarda do Sábado foi um treinamento
para que eles pudessem, com a chegada da maturidade/revelação compreender que é
necessário dedicar tempo suficiente para Deus e que nenhum homem deve viver em
função de si mesmo.
Jesus confirma esta ideia quando diz a respeito da
validade de curar um homem no dia de Sábado em Mateus 12:12 “Ora, quanto mais
vale um homem do que uma ovelha! Portanto, é lícito fazer o bem nos Sábados.”
Como o Daniel do filme que só descobriu depois, percebemos agora que o Sábado
não é um fim, mas um meio para ensinar o homem a dedicar tempo suficiente para
Deus.
Nessa altura, você já deve poder enxergar com clareza de que
maneira este princípio se aplica também à oferta de sacrifícios cruentos. O
objetivo final de Deus nunca foi o de que os homens vivessem eternamente
oferecendo sacrifícios cruentos que lhe fossem aceitáveis. Tudo era um ‘treino’,
uma preparação para o tempo da maturidade/revelação.
Centenas de anos de
‘treino’ tornaram possível agora a compreensão do mistério a nós revelado, o
foco do plano divino, a exaltação do seu Filho por meio de seu sacrifício
perfeito em favor dos pecadores e o aperfeiçoamento dos santos pela fé em
Cristo. Este era o alvo e objetivo final conforme Hebreus 10:14 “pois com uma só
oferta tem aperfeiçoado para sempre os que estão sendo
santificados.”
Alguns conceitos bíblicos podem gerar muita confusão e até
se tornarem difíceis de explicar para alguns. Se este era o seu caso em relação
a qualquer destes e se esta associação lhe ajudou de alguma maneira a
compreender melhor ou explicar melhor o que já sabia, mas não conseguia
demonstrar com clareza, então use-a e ajude outros a compreenderem as maravilhas
do plano deste Deus que em sua infinita sabedoria nos ‘treina’ e nos prepara
para o que está por vir, muitas vezes sem que nem mesmo percebamos.
Espalhando a Glória do Mestre - Pr. Junior e Família
Cabo Verde -
África Ocidental
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