19 outubro 2012

Karatê Kid, a Circuncisão, o Sábado e os Sacrifícios


Lembro-me que na minha infância, minha mãe costumava citar o seguinte ditado: “isso aí é mistura de Zé Buxudo com Jesus Cristo”. Nunca fiquei sabendo de fato quem era esse tal de Zé Buxudo, mas, logo cedo entendi a associação, já que o contexto da citação era sempre se referindo à união de algo que era estranho demais ou realmente incompatível e que não se devia misturar.

Talvez, você esteja pensando o mesmo vendo o título deste artigo, mas deixe-me explicar melhor o que quero dizer e como pretendo lhe ajudar com ele. 
Ministrando uma aula de Bíblia, fui questionado sobre o papel da circuncisão, do Sábado e dos sacrifícios no Antigo Testamento. Refletindo sobre como explicar o papel destas ordenanças de uma maneira fácil, foi aí que me veio à mente o contexto do filme Karatê Kid.

Tanto no filme original quanto no atual “remake”, a associação é válida, mas vou me ater ao filme original (aquele com o Daniel San e o senhor Miague). 

No filme, o garoto que apanha muito no colégio, depois de algum tempo, consegue finalmente convencer o relutante mestre a ensiná-lo. A condição: “Faça tudo o que eu mandar, mas sem perguntas”. O garoto aceita e então o que vemos no filme é aparentemente o início de uma exploração total. O senhor Miague coloca o pequeno e entusiasmado Daniel para realizar todos os tipos de trabalho de reforma em sua casa e carros antigos. 

Sempre que o pobre Daniel tenta perguntar sobre o porquê de tal exploração ou sobre quando finalmente iniciarão as aulas de Karatê, a resposta segue a mesma: “... sem perguntas”. 

Os que assistiram ao filme irão lembrar que, depois de ter consertado e pitado a cerca da casa, limpado e encerado o assoalho (e não era pouca coisa não), ter lavado e polido todos os carros antigos do mestre, e pintado toda a casa, o menino chega ao seu limite do que ele acreditava ser pura exploração e a quebra do compromisso assumido por parte do mestre.

É exatamente aí que a história dá uma reviravolta e tanto o Daniel quanto nós levamos um tremendo choque ao descobrir que todos aqueles “trabalhos forçados” eram na verdade o seu treinamento de karatê. Nem o próprio Daniel acredita, mas desafiado pelo mestre ele é definitivamente convencido: “Limpa assoalho! Pinta cerca! Encera!” somados a um “pulso firme” encerram a cena, na minha opinião, uma das melhores do filme.

Mas o que aconteceu a final? E o que tudo isso tem a ver com as ordenanças ao povo de Israel no antigo testamento? É aí que vejo aqui uma associação perfeita.
A realização da circuncisão, a guarda do sábado bem como a oferta de sacrifícios cruentos, nunca foram um fim em si mesmos, mas sim um meio de ‘treinar’ o povo para o que eles só descobririam depois, exatamente como no caso do treinamento do Daniel.

O objetivo último de Deus quando instituiu a circuncisão não era de que os homens possuíssem uma marca externa que lhes conferisse algum tipo de ligação com Deus, mas sim que ela fosse a marca externa de algo que já deveria ter ocorrido internamente. É a isso que o apóstolo Paulo chama de circuncisão do coração em Romanos2:29 “mas é judeu aquele que o é interiormente, e circuncisão é a do coração, no espírito, e não na letra;...”.

Quanto à circuncisão, os judeus foram então ‘treinados’ a circuncidarem todos os seus filhos, mesmo sem entender o real motivo de sua instituição e até muitas vezes ‘marcando’ alguém que não possuía qualquer tipo de relacionamento sincero com Deus. E isso, até que o tempo da maturidade/revelação chegasse.

O mesmo princípio se aplica para a guarda do Sábado. O objetivo último de Deus nunca foi de proibir os homens de realizar qualquer coisa neste dia. A instituição da guarda do Sábado foi um treinamento para que eles pudessem, com a chegada da maturidade/revelação compreender que é necessário dedicar tempo suficiente para Deus e que nenhum homem deve viver em função de si mesmo.

Jesus confirma esta ideia quando diz a respeito da validade de curar um homem no dia de Sábado em Mateus 12:12 “Ora, quanto mais vale um homem do que uma ovelha! Portanto, é lícito fazer o bem nos Sábados.” Como o Daniel do filme que só descobriu depois, percebemos agora que o Sábado não é um fim, mas um meio para ensinar o homem a dedicar tempo suficiente para Deus.

Nessa altura, você já deve poder enxergar com clareza de que maneira este princípio se aplica também à oferta de sacrifícios cruentos. O objetivo final de Deus nunca foi o de que os homens vivessem eternamente oferecendo sacrifícios cruentos que lhe fossem aceitáveis. Tudo era um ‘treino’, uma preparação para o tempo da maturidade/revelação.

Centenas de anos de ‘treino’ tornaram possível agora a compreensão do mistério a nós revelado, o foco do plano divino, a exaltação do seu Filho por meio de seu sacrifício perfeito em favor dos pecadores e o aperfeiçoamento dos santos pela fé em Cristo. Este era o alvo e objetivo final conforme Hebreus 10:14 “pois com uma só oferta tem aperfeiçoado para sempre os que estão sendo santificados.”

Alguns conceitos bíblicos podem gerar muita confusão e até se tornarem difíceis de explicar para alguns. Se este era o seu caso em relação a qualquer destes e se esta associação lhe ajudou de alguma maneira a compreender melhor ou explicar melhor o que já sabia, mas não conseguia demonstrar com clareza, então use-a e ajude outros a compreenderem as maravilhas do plano deste Deus que em sua infinita sabedoria nos ‘treina’ e nos prepara para o que está por vir, muitas vezes sem que nem mesmo percebamos. 

Espalhando a Glória do Mestre - Pr. Junior e Família
Cabo Verde - África Ocidental

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