03 junho 2014

Eclesiastes 7.1-4

Aprendizado Profundo

Nesta passagem, vamos descobrir que alguns dos medicamentos de gosto ruim são os melhores. Aqui temos a resposta à pergunta feita no final do capítulo 6: “Pois quem sabe o que é bom para o homem durante os poucos dias da sua vida?” Para responder a esta pergunta, temos sete provérbios do tipo “melhor do que”, os quais são denominados de provérbios de valor comparativo. Esse tipo de provérbio mostra que as durezas da vida levam a um aprendizado profundo. Daí a razão para o título da presente publicação: “Aprendizado Profundo”.
  Qual é a melhor maneira para que um médico aprenda de maneira profunda e definitiva? Na faculdade, com livros de teorias, ou num hospital superlotado? Situações difíceis e constrangedoras nos ajudam aprender bem. Quando, por exemplo, estamos aprendendo um idioma e falamos algo errado e todos dão risadas, naquele momento aprendemos profunda e definitivamente.
   
   Nos primeiros quatro versículos deste, somos informados de que há muito ganho através de uma reflexão sóbria sobre a tristeza e a morte. No versículo 1, lemos: “Melhor é a boa fama do que o unguento precioso”, este versículo deve ser entendido da seguinte forma: “O nome limpo vale mais do que o perfume mais caro” (NTHL). Aprendemos com isso que o bom nome ou uma boa reputação cheira muito melhor do que um perfume caríssimo. A razão para isso é que o caráter da reputação de alguém é mais valioso e duradouro do que o cheiro de um perfume. Um bom nome sobrevive após a morte da pessoa, mas o cheiro do perfume acaba logo. Podemos concluir que, aquilo que somos é mais importante do que aquilo que temos ou não!

   E você? Como marido e pai, como é a sua reputação no trabalho, na vizinhança e na igreja? Você é um homem íntegro? Você procura ser exemplar em todas as áreas de sua vida? Você é um exemplo e fonte de motivação para os jovens e outros casais? O seu nome significa alguma coisa para as pessoas?
   
    A conclusão, no versículo 7, é que: “o dia da morte, melhor do que o dia do nascimento”. Há dois dias em nossas vidas quando o nosso nome é importante: o dia em que nascemos e recebemos um nome, e o dia do óbito onde muitas vezes somos notícias. O que acontece entre esses dias é o que determinará se nosso nome é um suave perfume ou um belo fedor. Isso não quer dizer que não devemos aproveitar a vida; pelo contrário, este livro nos diz oito vezes que devemos aproveitá-la. Também não temos que hesitar em falar sobre a morte. De fato, devemos falar sobre isso abertamente, pois é uma realidade inevitável a todos nós, e seus efeitos serão devastadores se não estivermos preparado para a vida após a morte.

    Você já percebeu como é a nossa forma de marcar o tempo de vida de uma pessoa? Escrevemos o nome da pessoa, e em baixo do mesmo colocamos algo assim: 1934-2008. Colocamos o ano do nascimento e o ano da morte. Entre os dois anos coloca-se o quê? Um hífen, que simplesmente é um risco bem curto. De acordo com Eclesiastes, poderíamos dizer que a vida é apenas um pequeno traço entre o nascimento e a morte, ou seja, a vida é como um vapor. Tudo o que você fez na Terra, toda a sua influência, e toda a sua reputação se resume apenas a um traço entre um ano e outro. Não há muito tempo para servirmos a Deus, mas há muito tempo para se fazer besteiras neste mundo. Temos que refletir sobre a vida que temos levado.
 
    No versículo 2, encontramos mais palavras de sabedoria: “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração. Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração”. Aqui, o autor está sugerindo que seria melhor ir a um funeral do que a uma festa, e a razão que ele apresenta é a de que a morte é “o fim de todos os homens”. A triste realidade é que, por causa do pecado, um dia teremos que morrer. Não adianta fazer exercícios, nem lipoaspiração e nem ter uma dieta balanceada, pois nada pode mantê-lo jovem e vivo para sempre. A morte é o destino de cada ser humano. O sábio compreende essa brevidade da vida. Ele não vive como se a vida na terra fosse durar para sempre. As pessoas sábias veem as catástrofes e acidentes e começam a refletir. As pessoas sábias tiram o máximo de proveito do tempo que têm.

   Se pudéssemos visitar as igrejas antigas ainda existentes, notaríamos que muitas delas têm um cemitério no adro da igreja. O adro é um local cercado, localizado à frente da igreja. As janelas têm vidros claros, ao invés de vitrais, para que o pastor possa visualizar o cemitério enquanto prega. Enquanto ele comunicava sua mensagem à congregação, uma mensagem muito séria está sendo comunicada a ele próprio. Duzentos e cinquenta anos atrás, os crentes criam que a missão central da Igreja era a de levar homens e mulheres a um relacionamento correto com Deus. É por isso que eles construíram suas igrejas com visão para o adro. Eles queriam que seus pastores continuamente lembrassem da gravidade de seu chamado. Todos que estavam sentados nos bancos da igreja sabiam que um dia acabariam preenchendo uma vaga naquele cemitério o qual puderam ver antes de sua entrada no interior do templo, e sabiam que finalmente um dia estariam diante de Deus.


    Nos versículos 3 e 4 lemos: “Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração. O coração dos sábios está na casa do luto, mas o dos insensatos, na casa da alegria”. Embora a maioria de nós prefira o riso e o prazer, tais versículos nos informam que há benefícios na tristeza e no luto. Esta vida é cheia de tristeza e de sofrimento, mas as dificuldades da vida têm o potencial de despertar um interesse espiritual em nós. A tristeza nos faz pensar na vida, pensar sobre seu significado, e a respeito das nossas prioridades. Tem um ditado que diz: “Se não vem por amor vem pela dor”. A tristeza e o sofrimento, muitas vezes, levam as pessoas para Deus, enquanto que a alegria raramente faz isso. Os tempos de tristezas nos trazem esperança, paz e força. E é através dessa forma que vem o amadurecimento que muitas pessoas não obteriam de outro jeito. Veja bem, esta passagem não está condenando a felicidade; é exatamente o oposto, ela está defendendo uma paz apropriada e um contentamento que não se baseia em circunstâncias temporais apenas.
Imagine se um dia você tivesse a oportunidade de ler o seu próprio obituário. Obituário é aquela nota que os jornais têm para comunicar falecimentos. O que será que iriam escrever a seu respeito? Alfred Nobel teve a oportunidade de ler seu próprio obituário. Por volta da virada do século 20, o irmão de Alfred Nobel faleceu. Pela manhã, Alfred pegou o jornal do dia para ver o que haviam escrito sobre seu irmão e ficou surpreso ao descobrir que era o seu próprio obituário! O jornal, erroneamente, achou que era Alfred que havia morrido e o descrevia como o inventor da dinamite. Alfred Nobel percebeu que o legado que ele iria deixar estava associado com morte e destruição. Alfred teve uma segunda chance para reescrever seu legado. Com a ajuda de amigos, ele decidiu investir parte de sua riqueza para honrar aqueles que promovessem a paz mundial. Hoje, muitos sabem que Nobel inventou a dinamite, mas ele é mais conhecido por outra de suas criações, o Prêmio Nobel da Paz. Você vai deixar algum legado? Sua vida vai ter algum impacto duradouro?

   Durante a Segunda Guerra Mundial, os japoneses atacavam os inimigos com pilotos camicazes. Os camicazes, termo que significa, em japonês, “vento divino”, eram esquadrões suícidas, formados pelas forças aéreas japonesas nos últimos meses da II Guerra Mundial. Tais pilotos voavam em aviões carregados de explosivos e se lançavam contra os navios dos Estados Unidos com a finalidade de deter o seu avanço. Chegaram a afundar 40 navios dessa forma. Estes pilotos, acreditavam na filosofia xintoísta de morte honrosa em batalha, por isso cometeram suicídios batendo seus aviões diretamente nos alvos. Os aviões deles tinham combustível somente para a viagem de ida. O destino dos pilotos camicazes era determinado antes mesmo de saírem do chão. É difícil não se perguntar o que deve ter passado na mente daqueles jovens soldados. Certamente pensavam no que iria acontecer com eles, mas, é bem provável que excluíssem de suas mentes qualquer pensamento sobre a morte, preferindo focar-se na missão que haveriam de cumprir.



   Esta história é bem parecida com a de nossas vidas. Somos, em certo sentido, camicazes também. Nosso ser foi permanentemente selado dentro de nossos corpos, e só nos foi dado combustível suficiente para uma centena de anos, se formos abençoados com a longevidade. A morte é esperada por todos nós, mas talvez, como camicazes, preferimos não pensar nisso. Preferimos focar nas coisas deste mundo, em nossos projetos, trabalhos, férias e planos que traçamos. Com tantas coisas em nossas mentes, não temos tempo para pensar sobre a morte, e, além do mais, quem quer pensar sobre ela, afinal? Mas não pensar na morte geralmente significa deixar de pensar na vida. E não há como pensar na vida sem pensar em como Deus quer que a vivamos. “Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fl 1.21).

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